Tenho medo de sofrer. E também tenho medo de pensar sobre o sofrimento. Não é por superstição, mas é porque na maior parte do tempo eu sou aquele tipo de pessoa naturalmente otimista, que vê as coisas pelo seu lado bom e, em geral, isso é bem positivo, uma certa vantagem no traço de personalidade. No entanto, isso carrega um fato inegável: nunca estou preparada para as coisas darem errado. Esta semana enfrentei uma madrugada correndo com o meu filho KAUAN entre clínicas e hospitais, tentando encontrar alívio para a dor que ele sentia. Sentada na sala de espera de um pronto-socorro, eu pensava que, se pudesse, tirava aquilo dele ali na hora, com as próprias mãos. Se fosse possível, sofreria toda a dor no lugar dele, só para que pudesse dormir em paz outra vez. Observar aquela criaturinha chorando sem poder fazer algo que solucionasse seu problema imediatamente me doía em dobro. Queria eu ter poder para curá-lo. Queria eu ser Deus para tocar em sua testa e mandar embora o que quer o fizesse sofrer. Mas eu não sou Deus, sou só mais uma filha assustada, pedindo socorro também, e ainda queria que Deus me atendesse no pedido quase desesperado para que ele parasse um pouco de resolver os problemas tão complexos de toda a humanidade e viesse cuidar da minha criança por alguns minutos. Nem sempre poderei livrá-lo da dor ou impedir que o sofrimento venha. Um tombo no parquinho, uma medida disciplinar mais rígida, um resfriado pesado, um fora da primeira namoradinha (daqui uns 30 ou 35 anos, quem sabe... rsrsr), uma topada na porta com o dedinho do pé... Enfim o que quero dizer é que não poderei impedir o sofrimento. E os meus filhos não vão sofrer porque eu deixei de agir; e sim porque havia uma pedra para que ele tropeçasse no caminho que escolheu seguir. E aí, a questão já nem é o fato de eu poder ou não livrá-lo da dor, mas de que se eu intervir, aquilo já não será resultado das decisões que ele tomou. O amor pressupõe liberdade. E quem ama, ama a liberdade do outro. O que quero dizer é que na intensidade desse sentimento apaixonado, muitas vezes o pai abre mão do seu poder para dar ao filho a opção de escolha, por saber que o aprendizado é necessário e que nem tudo o que é bom, é necessariamente bom para todo mundo... Acho que Deus prefere não ser chamado de Deus do que ser esse Deus sádico que alguns pensam que ele é, entende? Ele é o Pai. Um pai não deseja o sofrimento do filho, não o permite e tampouco provoca. O sofrimento de um filho, em tudo, rasga o coração do pai, dilacera sua alma. É errado culpá-lo pela dor. Mas o homem todo, em seu crescimento, aprende pela experiência... Sabemos o caminho certo mesmo quando trilhamos outros caminhos longe dos filhos. Conhecemos a estrada à medida em que a percorremos. E os buracos estarão lá, nem todos provocando acidentes. E as belas paisagens estarão lá, nem todas provocando suspiros. Só temos uma certeza, PAIS E MÃES estando separados ou não... Filhos sempre serão filhos, estando longe ou perto.
Com carinho: valdirene
Eu e meus desavessos...
Esse pra quem não
conhece é o meu filho
Kauan.
Um comentário:
Q mãe engajada, revelando-se em detalhes, seu dia-a-dia. E possibilitando um registro de seu verdadeiro valor como pessoa humana, pondo-se no lugar de outro e sacrificando-se, assim fosse possível. Parabéns pela resenha.
Postar um comentário